Olá pessoal! Hoje vou falar sobre um dos motivos mais comuns de visita ao consultório – FIMOSE!

Pretendo explicar e tirar os mitos sobre essa condição tão prevalente, principalmente nos lactentes. Então vamos lá!

Primeiro dado – 96% dos meninos nascem com FIMOSE! Isso mesmo, praticamente todos os bebês nascem com essa alteração! Aí vem a pergunta – se todos nascem com fimose, devemos operar todas as crianças?????

Bom, para responder essa pergunta, precisamos primeiro definir o que REALMENTE é fimose!

É simples – é a impossibilidade de tracionar o PREPÚCIO e expor COMPLETAMENTE a glande (cabeça do pênis).

Voltando a pergunta lá em cima – todos que possuem fimose necessitam de cirurgia?

A reposta é NÃO (felizmente)! Devemos diferenciar (e talvez essa seja a maior dificuldade dos não especialistas) os dois tipos de apresentações existentes nas crianças: FISIOLÓGICA e PATOLÓGICA.

O termo fisiológico já define esse tipo de achado – uma condição normal, natural do desenvolvimento. Nesse caso, a pele do prepúcio está ADERIDA a glande, o prepúcio é elástico e complacente.

Felizmente essa é a grande maioria dos casos e com o aumento peniano, as ereções mais frequentes (SIM – BEBÊS TAMBÉM TEM EREÇÕES) e a descamação natural do epitélio do pênis – formando o ESMEGMA – gradualmente o prepúcio vá cedendo até a completa exposição da glande.

Aqui vale falar um pouquinho mais sobre o esmegma – ele causa algum terror nos pais. Aquelas bolinhas amarelo/esbranquiçadas, que ficam abaixo da pele do prepúcio é chamado de ESMEGMA – ele é o produto da descamação natural do epitélio do prepúcio e glande. Como existe essa aderência entre essas camadas, naturalmente ele não consegue “drenar”.   Na verdade, o esmegma auxilia no descolamento do prepúcio…

Sobrou a FIMOSE PATOLÓGICA! Essa deve operar né! – E a reposta é NEM SEMPRE!

Bom, novamente, como o nome já diz, a fimose patológica significa a existência de uma alteração / doença. Nesse caso, encontramos o que chamamos de anel fibrótico. A pele do prepúcio apresenta uma inelasticidade, um “endurecimento” que não possibilita a retração prepucial. Geralmente é possível observar até uma mudança de coloração da pele – mais branco – nesse ponto do anel.

Então quais os cuidados que devemos ter com esses pacientes?

Na verdade, não existe nenhum cuidado especial!

No banho o pênis pode ser higienizado com o mesmo sabonete do corpo.

NÃO SE DEVE FORÇAR O PREPÚCIO! REPITO – NÃO SE DEVE FORÇAR O PREPÚCIO.

A força exagerada pode causar microfissuras, trauma, dor e sangramento local. Isso pode gerar uma cicatrização secundária e PIORAR o quadro de fimose!

As fraldas devem ser trocadas rotineiramente para evitar assaduras e lesões.

À medida que as crianças vão crescendo, elas devem ser orientadas a tracionar o prepúcio e expor ao máximo a glande (NOVAMENTE SEM FORÇAR!) – realizar a higiene local e secar. O prepúcio sempre deve retornar à posição natural – isso evita uma complicação chamada PARAFIMOSE.

E como deve ser feito o seguimento? Quem deve operar e quem pode seguir? E a tal pomada?

Calma lá!

Vamos por partes.

A cirurgia chamada circuncisão ou postectomia é uma das cirurgias mais realizadas no mundo. Isso porque existe uma questão religiosa entre alguns grupos e uma tradição anglo-saxã. Nesses casos a indicação de cirurgia é da família – não temos muito o que discutir por aqui – apenas orientar os benefícios e riscos do procedimento!

Já no Brasil, não existe tanto essa questão cultural. O processo é outro.

Geralmente esse paciente é referenciado por algum colega pediatra que identificou  uma alteração. O papel do especialista é diferenciar as duas condições. Com isso já conseguimos tranquilizar os pais e orientar os cuidados.

Na fimose fisiológica o próprio tempo geralmente pode resolver a situação. Apenas 10% dos meninos acima de 5 anos mantém alguma aderência balanoprepucial. Nesse caso a pomada pode auxiliar.

Quando nos deparamos com a patologia, podemos lançar mão de dois tratamentos – a famosa pomada ou cirurgia.

A aplicação local da pomada (uma composição de corticoide), duas vezes ao dia por até 6 semanas pode auxiliar na melhora da condição. Entretanto, sabemos que cerca de 30-40% dos casos o problema pode voltar.

A opção da cirurgia é resolutiva e entre as possibilidades existem basicamente dois tipos de procedimentos. Aquele realizado com um anel/clamp e o outro através de sutura/pontos (tradicional)

Quem vai indicar qual melhor opção é o cirurgião junto com a família.

A cirurgia é tradicional com pontos é realizada em ambiente hospitalar com anestesia geral e bloqueio peniano – dura em torno de 45 minutos. Existe a possibilidade de alta no mesmo dia.

O paciente sai com curativo local, medicamentos e orientações com relação aos cuidados. O retorno ao consultório geralmente é breve (1-2 dias) para avaliar a fase inicial de cicatrização.

O resultado estético varia muito, mas geralmente é alcançado após 6 meses.

As principais complicações são hematoma e sangramento local.

Já a cirurgia com uso de clamp/anel é preferencialmente usada por bebês menores. Pode ser feita com anestesia local em um procedimento que demora poucos minutos.

Existem algumas outras indicações para a cirurgia que deixei por último aqui.

Em crianças que apresentam alguma alteração do trato urinário tanto anatômica quanto funcional se beneficiam da operação. Meninos com doença do refluxo vesicoureteral, megaureter, bexiga neurogênica são mais propensos a apresentar infecções urinárias de repetição. Logo, quando circuncisados, podemos reduzir o risco em até 12x de desenvolver novas ITUs!

Acredito que tenha feito uma boa revisão aqui para vocês!

Espero que tenham aproveitado esse texto.

Nos vemos em breve!

Um grande abraço.